domingo, 19 de dezembro de 2010

Na geometria da vida

Na baia do teu peito
há um refúgio
uma vaga que embala
as insónias cativas de ti,
uma luz que cinzela
o fulgor do teu olhar,
um ponto que me atrai
uma recta que acelera
o fim do meu cansar

Na geometria da vida
uma esfera perdida
num eixo desviado
d`uma terra carecida
um sepulto florido
d`um jardim escondido
num tempo invertido
um quadrado alongado
d`uma estrada pedregosa
em bermas amortalhadas

E uma meta desconhecida
sinuosa… sob o brilho constelar

sábado, 20 de novembro de 2010

Geme a saudade

Geme a saudade
nas cordas de uma guitarra
Que dizer se a garganta sufoca?
que fazer se o corpo paralisa
na ternura de ser vida…
só fica o ouvido,
a repetição do gemido
que arranca o coração,
matéria incandescente
acariciando-o com sons
selvagens, pulsantes
delirantes, carentes

Que fazer, que dizer
quando a guitarra geme
no meu peito gaivota,
mar em evasão…
desenfreado, manso
inundando o olhar que te sente
num momento, numa vida
no tempo sem tempo de ser tempo

Toca guitarra toca,
inventa o meu fado
no crepúsculo do amanhecer,
na tarde que quer partir
sem mim

Toca guitarra não pares, fica..
desliza no meu peito… prenhe
deixa-me ficar aqui
no silêncio da tua voz
falando-me baixinho,
gemendo em mim
o meu próprio destino

Toca guitarra toca
a saudade de alguém

domingo, 7 de novembro de 2010

Perdido o meu corpo




















Perdido no perfume estonteante,
meu corpo flutua no lúbrico verbo,
do irracional desejo em fulgor
diluem-se os sentires extrínsecos
nos intrínsecos vertiginosos do amor

O gemido silencioso torna-se diamante
no prazer suspirante da doida luxúria
danças exóticas sucedem-se em vértice
no crepúsculo espasmódico da incúria

O olhar perde-se na brandura longínqua
goteja os meus olhos de prazer roubado
torna-se premente a sublime presença
do corpo distante num tempo parado

Meu corpo relaxa trajado de doce paz
no murmúrio sussurrante do ser amado
adormeço nos braços cálidos da quimera
tal pássaro deslizando num sonho alado

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Destino escondido

No lago ondulante do pensamento
há uma cascata turbulenta
tombando
um pássaro hibernando na raiz
da liberdade
um vento timbrado, que sopra
gemendo
um céu transvertido
lágrima

paisagem rascunhada…. cinzenta

mas no rabisco vermelho patente
há uma flor que cresce no abismo,
esquecida
pétalas e espinhos perfazem-se
rosa imergida
no licor quente da própria
vida

há um consolo que penetra
o olhar perdido….
um papel escrito
de um livro ainda não lido
um destino escondido
d`uma vida sentida
a minha

domingo, 10 de outubro de 2010

Na palma da minha mão


















Na palma da minha mão
há o reflexo lapidado de um olhar,
desse olhar que se perde
no interstício da alma minha,
há um tudo e um nada,
como a vida que desliza
na ponta da asa de uma gaivota cega

Na palma da minha mão
há um sonho, uma estrela dançante
num olhar gotejante
de corpúsculos cristalinos de sal,
torrente fluindo num pedaço de mar
do teu mar, pertinho de ti

Na palma da minha mão
tatuado a lume e lágrimas,
há um diamante, enobrecido pelo tempo
um tempo vão… forçado… o teu

Na palma de uma mão
na lonjura das vagas marinhas, sem nexo…
há um olhar vazio….. falho de algo...
de mim

sábado, 2 de outubro de 2010

As pétalas do teu corpo
















Desnudo as pétalas do teu corpo
em dedos febris me consumo
do teu olhar teço pássaros de fogo
do teu cabelo bordo cascatas fome

No meu rosto cintila Andrômeda
no meu peito latejos de mariposa
na minha boca a suculenta romã
nas minhas mãos o fulgor da manhã

No torvelinho da tua alma me perco
nas vítreas gotas dos teus poros, gotejo
na aura do meu estonteamento, levito
no insano momento de languidez, feneço

E no silêncio das minhas mãos febris
poeto versos no teu corpo consoante
na embriaguês das eternas vogais,
sussurro o sibilado vocábulo, amo-te

A manhã beijou-me… hoje

















A manhã entrou-me pela janela adentro
na frescura do dia beijou-me
deliberadamente
acariciou-me com os seus raios distantes
ao de leve, timidamente
querendo ser vento que passa no momento

A manhã beijou-me…. calidamente
perdendo-se novamente no dia
como a areia escorrendo
na minha mão vibrante… vazia

A manhã partiu incerta
no meu rosto, um sorriso quente
no meu olhar uma lágrima fluindo
perdida …

A manhã beijou-me...hoje
Adormecendo-me nos braços do tempo

sábado, 18 de setembro de 2010

Faço de ti “poesia”



















Faço de ti “poesia”
o meu sustento
a minha crença do dia a dia
a minha arma, o meu lamento
o meu gemido, a minha fantasia

Faço de ti, o leito do meu sossego
o vento da minha tempestade
a seiva do meu carinho
no teu corpo versado

Faço de ti a taça de bom vinho
bebido no acto da embriaguez,
nas curvas do meu caminho,
no meu eterno destino

E lá, onde arde a desdita
faço de ti a minha guitarra,
a canção do meu bailado
o traje da minha memória
o meu destemido fado

Faço de ti “poesia”a minha saudade
a minha querença, a minha infinidade

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Infecunda liberdade
















A vida pariu o destino
abandonou-o meigamente
na janela aberta do SER
tatuando com lágrimas e risos
a brochura da alma
aprisionando-a
na liberdade de ser

Mas o SER
bastardo engravidou
de infecunda liberdade

A terra escureceu
E a vida tornou-se sombra

Torna-me imortal














Abraça-me assim… bem forte
faz-me sentir a minha própria pequenez
mostra-me a efemeridade de ser corpo
torna-me imortal na mortalidade dos sonhos
deixa-me provar o sabor da tua essência
fica comigo nesta amência permanente
neste tropeçar sôfrego de ser tempo
e mostra-me o casulo do alvorecer
no murmurar ínfimo dos dias

Abraça-me bem forte e no silêncio do vento,
o eco do teu olhar sussurra-me

Estou aqui, sente-me

sábado, 16 de janeiro de 2010

Poeta ferida


















DEDICADO A UMA POETISA ESPECIAL

Palavras viscerais e furibundas
Lavram o papel esfaimado
Chorando de ventre desnudado
A dor esviscerada da descrença
Impiedosamente soluças
Vocábulos desmembrados acutilantes
Que rasgam a íris perplexa
No negro da noite que se advinha

Cega pelos soluços atormentados
Ceifa-se a minha alma enegrecida
E nos poemas gementes que cinzelas
A marca da dor com que desvendas
As liberdades corrompidas
Dos meandros selváticos da vida
Tatuados na tua pele de poeta ferida

15/01/10

sábado, 2 de janeiro de 2010

Vagabundo tempo





















Com a impotência algemada à alma
e as mãos calejadas de acariciar
o vazio do eco arquejante
lavro na pedra barrenta
do destino
um outro olhar,
um outro caminhar

Com a firmeza de um sem abrigo
semeio na alma as flores do desejo
desse desejo que me faz crente
e na berma da estrada
visto-me
dos minutos e das horas do tempo,
desse tempo
sem tempo p`ra mim

A impotência permanece
na ardência da alma nua
e num impulso de puro
atrevimento
exijo ao vagabundo do tempo
um milésimo de tempo
por fim

Simplesmente sonho-te


















Sonho-te neste meu corpo perdido
nas flores que florescem no eco dos ventos
nas cordas vibrantes que lentamente
fazem gemer o fado proscrito

Sonho-te no amanhecer gotejante e cinzento
que cobre a doce alvura do sol nascente
da primavera que ainda não se advinha
na distancia invernal da lua crescente

Sonho-te na inquietude da noite fria
onde os lençóis cobrem o calor agitado
da delirante fantasia do corpo adormecido
onde a plenitude do brilho do meu olhar
perde-se no infinito poderoso
de te sentir pertinho de mim
num tempo afim

Sonho-te simplesmente
na certeza de te querer sonhar

Náufrago deste (a)mar














No rio obscuro da vida
existe um barco á deriva
nas aguas paradas no tempo
deste tempo que se perde
na sombra das tuas brumas

O barco desliza inquieto, ávido
espera a luz do amanhecer,
onde o sol seque a humidade
que goteja perene de querer.

São tantas as gotas gotejadas
e tantas as fragrâncias exaladas
que em arrojado ondular desliza,
nas pacatas águas da vida
o barco náufrago, deste (a)mar

(E lá… )

Onde se funde o rio e o mar
na meiguice de um raio de luar
tu barco, deixarás de te perder,
descobrirás os teus velhos remos
e nos braços de um renovado ser
permanecerás firme, pungente,
neste rio que o destino
não quer ainda destruir

O anoitecer em nós.















O amanhecer
Um leito, um corpo
Um beijo num arroubo
Um olhar, o desejo
O labirinto do querer
Um abraço, um sussurro
Um adeus, o até logo
O dia barulhento,
A sociedade, a rotina,
Uma pausa, uma lembrança
A saudade, as horas, a certeza
De me teres em ti.
O regresso, a ternura
A ansiedade, a emoção
O louco pulsar do coração
O corpo num abraço
A alma em comunhão
O carinho, a loucura
O saciar da saudade
O navegar no teu corpo
O desenhar sinfonias
Nos teus lábios entreabertos
Um sorriso patético
Na êxtase da paixão.
Os sussurros, as palavras
As pausas silenciosas
O estonteamento do frenesim
O recomeço sedento
Do alimento em nós
Na noite que enceta
No sonho que se perfaz
A dois, na paz
No abraço voraz
Do anoitecer em nós.