sábado, 16 de janeiro de 2010

Poeta ferida


















DEDICADO A UMA POETISA ESPECIAL

Palavras viscerais e furibundas
Lavram o papel esfaimado
Chorando de ventre desnudado
A dor esviscerada da descrença
Impiedosamente soluças
Vocábulos desmembrados acutilantes
Que rasgam a íris perplexa
No negro da noite que se advinha

Cega pelos soluços atormentados
Ceifa-se a minha alma enegrecida
E nos poemas gementes que cinzelas
A marca da dor com que desvendas
As liberdades corrompidas
Dos meandros selváticos da vida
Tatuados na tua pele de poeta ferida

15/01/10

sábado, 2 de janeiro de 2010

Vagabundo tempo





















Com a impotência algemada à alma
e as mãos calejadas de acariciar
o vazio do eco arquejante
lavro na pedra barrenta
do destino
um outro olhar,
um outro caminhar

Com a firmeza de um sem abrigo
semeio na alma as flores do desejo
desse desejo que me faz crente
e na berma da estrada
visto-me
dos minutos e das horas do tempo,
desse tempo
sem tempo p`ra mim

A impotência permanece
na ardência da alma nua
e num impulso de puro
atrevimento
exijo ao vagabundo do tempo
um milésimo de tempo
por fim

Simplesmente sonho-te


















Sonho-te neste meu corpo perdido
nas flores que florescem no eco dos ventos
nas cordas vibrantes que lentamente
fazem gemer o fado proscrito

Sonho-te no amanhecer gotejante e cinzento
que cobre a doce alvura do sol nascente
da primavera que ainda não se advinha
na distancia invernal da lua crescente

Sonho-te na inquietude da noite fria
onde os lençóis cobrem o calor agitado
da delirante fantasia do corpo adormecido
onde a plenitude do brilho do meu olhar
perde-se no infinito poderoso
de te sentir pertinho de mim
num tempo afim

Sonho-te simplesmente
na certeza de te querer sonhar

Náufrago deste (a)mar














No rio obscuro da vida
existe um barco á deriva
nas aguas paradas no tempo
deste tempo que se perde
na sombra das tuas brumas

O barco desliza inquieto, ávido
espera a luz do amanhecer,
onde o sol seque a humidade
que goteja perene de querer.

São tantas as gotas gotejadas
e tantas as fragrâncias exaladas
que em arrojado ondular desliza,
nas pacatas águas da vida
o barco náufrago, deste (a)mar

(E lá… )

Onde se funde o rio e o mar
na meiguice de um raio de luar
tu barco, deixarás de te perder,
descobrirás os teus velhos remos
e nos braços de um renovado ser
permanecerás firme, pungente,
neste rio que o destino
não quer ainda destruir

O anoitecer em nós.















O amanhecer
Um leito, um corpo
Um beijo num arroubo
Um olhar, o desejo
O labirinto do querer
Um abraço, um sussurro
Um adeus, o até logo
O dia barulhento,
A sociedade, a rotina,
Uma pausa, uma lembrança
A saudade, as horas, a certeza
De me teres em ti.
O regresso, a ternura
A ansiedade, a emoção
O louco pulsar do coração
O corpo num abraço
A alma em comunhão
O carinho, a loucura
O saciar da saudade
O navegar no teu corpo
O desenhar sinfonias
Nos teus lábios entreabertos
Um sorriso patético
Na êxtase da paixão.
Os sussurros, as palavras
As pausas silenciosas
O estonteamento do frenesim
O recomeço sedento
Do alimento em nós
Na noite que enceta
No sonho que se perfaz
A dois, na paz
No abraço voraz
Do anoitecer em nós.