domingo, 17 de agosto de 2008

Desespero existencial


Hoje, sento-me à beira do abismo
Olho a rocha escarpada
Perpendicular ao mar
Esse mar revolto que me atrai
Hipnotizada sinto o anjo negro
Num abraço de morte
O negrume penetra minhas entranhas
Meus olhos raiados de breu não te vêem
Raízes seculares sugam a água da encosta
Meus pés desnudos estáticos
Pisam os espinhos das rosas mortas
No céu as nuvens pardacentas
Cobrem-me de saudade
Na minha mente imagens pintadas de sonhos
Rasgam-me a alma como garras felinas
O meu corpo alado ergue-se
Pronto a arrojar-se
No escarpado negro da morte
Minha mente hesita
Meu corpo estremece de desejo
É tão fácil voar até ao mar
Permanecer voando no infinito
Não sofrer, não pensar
Apenas voar, sem passado
Sem presente, sem futuro
Sentindo a alma navegar
Ao sabor da brisa divina
Ah! como é tão fácil
Morrer e não pensar.
Atiro-me feliz
Nos braços negros do vácuo
Sucumbo mais e mais
Sem gritos, sem dor
Seduzida pela pulcritude do limbo

No limite do teu desespero existencial, é isso que sentes, tu que queres morrer? Interrogo-me perplexa, sem respostas e tu amigo que lês este poema sabes responder?
Porque desiste de viver aqueles que se suicidem?
Que desespero tão profundo os levam a querer morrer, será mais fácil desistir ou lutar pela vida? Reflecte, analisa e conclui ….


Chama bravia


No meu peito arde a chama da ilusão
que percorre o meu corpo
em autentica combustão

Meu corpo desnudo
deixa-se envolver pelo fogo impetuoso
que brota do lampejo do passado

Mergulho nas cinzas
dispersas pela terra calcinada

Gritos silenciosos emergem
da garganta esfacelada
de tanto bradar

Bebo o passado límpido
como um doce veneno que me embriaga
e provoca-me espasmos de prazer fugaz

A mente lapida
como a lâmina de uma navalha
o esquecimento

Mas teimosamente a chama bravia
arde majestosa revoltando-me….
afagando-me… e nada fica igual.



terça-feira, 5 de agosto de 2008

Quantas vezes


Quantas vezes, contemplei o mar
perdendo-me no anil do horizonte

Quantas vezes, aguardei
que viesses amainar
a minha saudade perene

Quantas vezes, almejei ser alga
sentir a carícia das ondas
e mergulhar no afago do teu corpo

Quantas vezes… permaneci
sentada na margem da vida
não sentindo o tempo passar
mas sentindo o pranto resvalar
beijando docemente o calhau

Quantas vezes, ansiei o teu sorriso
afagando a minha face dorida

Quantas vezes, o meu coração parou
fatigado, atordoado, perdido…
palpitando somente
com o murro da esperança


Quantas vezes, desejei loucamente
procurar-te por ai…

Quantas vezes, ambicionei ser anjo
apertar-te no calor do meu corpo
e transformar os teus pesadelos
em sonhos perfumados de jasmins

Quantas vezes desejei-te
e acreditei
que o destino te trouxesse
por fim