quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Penduro os beijos estéreis


Penduro os beijos estéreis no varal dos meus olhos
calço as luvas róseas das palavras vibrantes
abrevio o pensamento e voo em dilúvios de azul
que cobre  a incúria da minha alma deslizante

São voos mergulhantes no precipício nú do tempo
nas charneiras húmidas do meu corpo,  frio
onde o fermento do poema brônzea,  a calidez da pele

E os rasgos de ternura torneiam os anéis da alma
num vaivém de caricias áureas de cor, perfumando
de aromas doces, as sombras de corpos selvagens      

Escrito a 24/07/16   

terça-feira, 23 de junho de 2015

E as mãos amparam o pensamento




As horas deslizam rapidamente
como se me sulcassem a pele
pelos montes e vales da minha existência
são fissuras consumidas
de um vento soalheiro de memorias
liquefeitas em aromas degustadas no ar
são imagens pinceladas
d´uma pintura inacabada e aguada
de gostos amargos-doce
onde pernoita o meu corpo sedento

E as mãos amparam o pensamento
de pérolas salgadas de (a)mar


Escrito a 21/06/15

sábado, 6 de junho de 2015

.... visto-me do avesso


Toco no reverso da alma,
visto-me do avesso e rio-me do tempo,
em gargalhadas cínicas, desafio-o
poderosa força avassalando a mente
numa brisa translucida que me cobre
ao de leve
e transporta-me
num adejar de asas febris
ao teu encontro despida

Escrito a 1/06/15

sábado, 18 de abril de 2015

E mais além…. no vento


Segue-me silenciosamente
esta inquietação colada aos ombros
segredando-me sem me tocar
lufadas de frescas flores
vazando de ardores o peito sombreado

Num zumbido delirante
delira sussurros grudados aos lábios,
num rodopiar de diáfanas  melodias
cobrindo o corpo de nuas fantasias

E mais além…. no vento
persegue-me os passos do tempo
que eu deixei à tua porta
no dia em que me fiz tua

Escrito a 18/04/15

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Quão fundo é o areal de pedra e sargaço


Quão fundo é o areal de pedra e sargaço
por onde adormece o cansaço dos meus passos
abandonados ao perfume salinizado dos mares
e ancorados ao pontão das longínquas memorias

Perdem-se no murmurar surdo dos temporais
o eco das palavras multíplices de desejo
que anoiteceram na quentura ausente dos corpos
das diáfanas caricias memoriais do tempo

E na boca de todos os infernos, pernoitam
os pedaços de silêncios adormecidos
e nas vagas chamuscadas do olhar persiste
a cor vermelha das malvas e o tilintar
dos suspiros fatigados na tez acerejada da pele


Escrito em multi datas

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Quando digo de mim



Quando digo de mim
há um bocal ofuscado que me suga
nos beirais dos olhos insanos
um ciclo perigoso cola-se ao peito
e desdiz as mares secas dos olhos

Quando digo de mim
da ponta do espinho solta-se
o reverso do tempo por onde escorre
enxames de beijos roubados
presos à boca.

Alucinando…

Quando digo de mim
o aço estremece
na lisura dos dedos febris
e as partículas adormecidas
gemem ao lado do vento
famintas de ti

Quando digo de mim
calo-me num rosário aceso
na sombra da noite

Escrito a 14/11/14


sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Deita-te sobre o manto rubro com que me cubro


Deita-te sobre o manto rubro com que me cubro
embriaga-te nos fios dourados em que se entrelaçam o meu olhar
adormece nos poros húmidos do tempo…

 Silenciosamente
prende-me à tua mente de sonhador
e leva-me por entre o vento, endeusando-me sem pudor

 Deita-te sobre o manto rubro com que me cubro
esvoaça-te em gestos lentos… selváticos de cor
não tenhas pressa, amor deixa-me morrer por entre as palavras
e os sussurros num poema que já não é meu 

Deita-te sobre o manto rubro com que me cubro
e deixa-me sentir…o tempo que se perdeu


 Escrito a 2/11/14

 :

sábado, 30 de agosto de 2014

As palavras secam-se nas entranhas do palato


As palavras secam-se nas entranhas do palato
o silêncio descreve esta inercia
que catapulta de mim

Reinvente-a …

Sussurra as paginas brancas do poema
ouço-me na brandura do verso
em ninhos emaranhados de ilusões
asas soltas nas palavras por escrever
sois bravios colorindo horizontes
da cor dos olhos meus

Reinvente-a ..

Gesticula as mãos translucidas da poesia
fadando o corpo teu
na longura diáfana da mente perdida
e as palavras nascem sem ecos
na sombra do verbo por dizer

Reinvento-te
no silencio da noite
desnuda de mim


Escrito a 27/07/14

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

A mágoa antiga das lágrimas


Não quero mais perceber o silêncio da palavra
nem o gesto incompreensível do corpo por espreitar
quero soltar esta lava que queima escondida
no fundo escorreito do meu olhar

pois que fiquem os poemas com ansias de vida
e as mãos a amparar  a mágoa antiga das lagrimas

[quão doce é os contornos delineados nas sombras]

Escrito 13/08/14

sábado, 2 de agosto de 2014

No contorno dos lábios


Num ápice cai o silêncio
no contorno dos  lábios,
o soluço
espontânea e vigorosa torrente
que cai sem saber dos rios
que dançam na alma
feito mares de ondas levadiças
e espumosas
pernoitando
as enseadas da pele lívida

e a noite adormece
no amanhecer fusco do dia
sem saber de si
branda brisa que cobre a cidade
feita ninho
no parapeito dos prédios
calados


Escrito 1/08/14

sábado, 17 de maio de 2014

Num foliar de melodias


Deixa-me perder-me
no murmulhar ensurdecedor das ondas
onde se sente a macieza translucida dos sons
pernoitar a pele enclausurada de silabas

Deixa-me visitar-te
antes que as heras cubram o meu corpo
e a palidez das horas escorram por entre as mãos
num foliar de melodias transversas á pele, quente

Deixa-me abraçar-te
em gemidos transeuntes de sol
num tiritar de pássaros que habitam em mim
debicando inquietos, os sonhos cilíndricos
que devoram o meu corpo, num antro de loucura

E dá-me a leveza das palavras com que arquitetas
os versos que pincela o teu peito robusto de tons

Calo-me… e abandono-me á fúria dos ventos
que me arranca de ti


Escrito a 14/05/14


segunda-feira, 3 de março de 2014

São dos meus passos a marca da vida


Alongo a janela em que me olho,
para alem da noite,
na insipidez da brisa que beija o silencio
em que se embebeda o corpo,
num destilar de paixão, no areal das horas frias

Já não possuo a limpidez dos versos
nem me visto de calidez primaveril
sou somente o cogitar de quimeras
na longura alva do tempo em que me sinto tua

São dos meus passos a marca da vida
dos prados verdes em que me percorro, lassa
num encaminhar de palavras,
de imensas filas de folhas vazias, perdidas
na brandura rubra dos meus dedos famintos

São dos meus passos a marca da vida
com que olho o interior do tempo que me aprisiona
e  faz-me sentir  tão tua



Escrito a 22/02/14


domingo, 2 de fevereiro de 2014

Paginas emprenhadas


Crivo-me de ansias, no limiar do desejo
sinto-te raiz enroscada no meu corpo
em seiva bruta despetalo-me febril
num  abraço profundo em teu dorso

esvoaça-me asas de beija-flor, tremulas
no enroscar da face um beijo suave
e estremeço qual flor lançada ao vento
no estio rubro de madrugadas quentes

ato gemidos num mapear  de caricias
no  entrelaçado húmido dos poros
da pele una dos corpos distantes

e num rodopiar de versos alados
reescrevo em paginas emprenhadas
a melodia deste meu triste fado


Escrito a 28/01/14

domingo, 19 de janeiro de 2014

É o fonema da alma do corpo sagrado


 Voo até que as asas se quebrem
até que não haja mais dia, nem noite,
até que o vento esvoace o pó rubro do corpo
levitando na agrura dum sono meu
é o fonema da alma do corpo sagrado
dos angélicos sonhadores,  despidos de pele
num ancorado rebordo da  mente lívida

Será a poesia petrificada dum ensejo nominal
vigoroso voo,
na ultima caminhada perto do céu
rascunho de azul,
perdido no eco purpura do som
melodia de pássaros enfaixados
nas nuvens escorreitas
à luz da matina, lusco-fusco,
dum horizonte longínquo
num eco sonoro de bramidos tons,
debaixo das cores que cobrem o meu corpo,
num reflexo tardio  que se perdeu



Escrito a 19/01/14

sábado, 11 de janeiro de 2014

Dorme no meu peito as asas do tempo



















Dorme no peito as asas do tempo
em gestos suspensos à porta do silencio
a boca calada de beijos, pendurados
nas vagas agitadas dos olhos famintos

Dorme no peito o dorso do sonho
cansado e sovado pela renúncia do som
cai nas mãos delineando-se em grito
nas rasuras infindas da mente proscrita

Dorme no peito a cor do poema
palavras sepultadas nos lábios rubros
frases arqueadas pelo sabor do gosto
degustado na pele seca de fonemas

E dorme no meu peito as asas do tempo,
feito folhas brancas soltas no vento, nuas


Escrito a 08/01/14