segunda-feira, 23 de junho de 2008

Quero olhar-te, ver-te e sentir-te

Eu mortal na minha imortalidade
não quero ser imortal na minha intangibilidade
Quero olhar-te, ver-te e sentir-te bem fundo
Olhar os teus olhos de mel
Ver de perto as rugazinhas,
quando tu docemente sorris.
Ver o brilho de felicidade neles retidos
Ver a beleza contida nesse olhar marejado
Ver a construção de um poema teu
Ver o que vês na poesia que eu esculpo
Quero olhar-te e ver-te nem que seja numa foto,
numa aguarela imaginada por mim

(na intangibilidade não quero ficar)

Quero sim sentir, olhar e simplesmente estimar.
até ao dia que te vou abraçar
sentir o teu corpo pleno, no meu
deixar tagarelar o meu coração
acariciar os teus cabelos sedosos
murmurar-te ao ouvido
por favor, sente-me
e leva-me contigo
mesmo que não me queiras ver


Escrito a 23/06/08

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Não me peças...


Não me peças que te dê o nada
Se o nada não te quero dar
Não me peças que te assassine
Se tenho só a arma do lutar
Não me peças que me amordace
Se é meu coração que está açaimado
Não me peças nada de nada
Porque eu nada te posso dar
Pede-me distância
Distância dar-te-ei.
Pede-me silêncio
Calada chorarei.
Pede-me poesia
Poesia dar-te-ei
Pede-me o coração
Porque ele eu já te dei

Mas lembra-te, por favor
Que nem tudo devemos pedir
em nome do amor.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Momento circunscrito


Deitada numa cama do hospital
Penso…nem eu sei em quê
Na minha mente,
imagens surgem do passado, do presente
como um comboio expresso, veloz
sem se deter em nenhum apeadeiro
Mescla de sentimentos emergem
de um vulcão, ainda em ebulição
Lava incandescente invade
a montanha do meu sentir
formando rios de lama
que se extinguem
ao contacto do iceberg da razão
O expresso continua a deslizar
rapidamente
A minha mente
eterizar-se do passado, do presente
O tempo pára ao tic-tac do relógio
O meu ser ausenta-se
suspenso do comboio expresso
que continua em andamento

A porta da alma escancara-se
de repente
O sonho penetra sofregamente
Na mente atordoada
O futuro… imagina-se
O comboio expresso imobiliza-se
O sol renasce brilhante
Numa primavera apetecível
Gotas de orvalho penetra
a lava vulcânica
arando o solo
a semente é lançada
flores campestres perfumam
a montanha do sentir.
O presente é passado
O amanhã é esquecido
O sonho é intensamente vivido.

Escrito a 12/07/08

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Luar sedutor


Acordada no silencio da noite
Suspensa pelos filamentos
prateados das estrelas
Amparada pela sua manta sideral
Pairo na aragem do tempo
tal fantasma à procura
da casualidade existencial
das interacções cósmicas

Os meus olhos contemplam-te

Peço-te perdão, lua cintilante
Por ter provocado
O relampejar dos Deuses
Ao enfeitiçar-me do teu luar sedutor
Que me trajou de ternura
Alumiando minha existência

Não escutei a voz da razão
Que sussurrava baixinho
Pára, amordaça o teu coração
não o deixes sentir
Pára, curariza-o, paralisa-o
não o deixes pulsar
Pára, não o deixes voar.

Vagueio pelo espaço penitenciando-me
Sentindo o espinho da saudade
As pétalas da ternura
A chama do desejo
A vontade de voltar a sentir
A quentura do teu luar

Estendo a minha mão trémula
Quero afagar-te…
Mas como? Interrogo-me
Como posso ansiar tocar-te
Eu insignificante mortal?

Gotículas orvalhadas deslizam lentamente
Molhando meu corpo volatilizado

Tu olhas-me, sorris tristemente
Permanecendo em constante rotação.
E eu continuo a pairar
Na aragem do tempo
Em absoluta meditação

sábado, 7 de junho de 2008

Sonho de maresia

Estendo - me no calhau da praia
Sobre as macias algas marinhas
Envolvo-me de suave maresia
Aqueço-me com a manta solar

Meu corpo vestido de melancolia
Divaga….penetra
Na profundeza do oceano
Acaricia a estrela-do-mar
Delicia-se com as doces melopeias
Que ecoam dos acordes da harpa celestial
Tocando lúbricamente o tango

Os meus olhos fascinam-se
Com as medusas reluzindo
Das cores da paixão
Rodopiando sensualmente
Mais e mais, tornando-se unas

As conchas cantadeiras
Soltam cadenciadamente
Pérolas de amor
Inundando a vastidão marinha
De essências da vida

Eu continuo a contemplar
As medusas libertas
Entrelaçadas a dançar
O tango sedutor da vida

Permaneço imóvel, fascinada
E sinto o salgado dos meus olhos
Diluir-se nas torrentes oceânicas.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Um dia...


Um dia
O passado ficará inerte
Nas ruínas do tempo
Num ponto fantasma qualquer

Um dia
Eu serei ave, foca, leoa…
Voarei na vastidão do firmamento
Mergulharei na profundura do mar
Vaguearei pela densa floresta

Serei poeira cósmica
Diluída no universo astral
E quando eu já não existir
Tu procurar-me-ás
No recanto das tuas memórias
Recordar-me-ás, sorrindo
Sonhando com o passado
Abrigado num cantinho
Do teu fatigado coração.

Um dia
Eu serei apenas uma recordação
Suave como o vento
Leve como uma pena
Mas meigamente arreigada
No teu doce coração

Um dia
Enganarei a vida
E no livro grosso do tempo
Escreverei o meu próprio fado
Desenharei as cores do meu caminho
Pintarei o cinzento do meu destino
No verde cintilante da esperança

Serei o espelho da tua alma
Onde verás toda a pujança do meu querer.

Um dia
Eu serei aquilo que anseio ser.