quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Ondas de ternura

A praça em ondas de ternura
resplendece

Cantares trémulos
de cânticos natalícios
retinem na noite amena
acariciando os corações
ávidos de paz

Por tempo fugaz esquece-se
o sofrimento de sermos gente
e os rostos afogueiam no calor
emanado da multidão enternecida

Lá fora, gotículas orvalhadas
brotam suavemente de um céu cinzento
iluminadas pelas luzes artificiais
da antiga tradição Madeirense

No meu olhar a sombra viva de ti
ilumina-me num sorriso foragido
chamejando o meu peito vibrante
de ondas prementes em mim

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Amalgama dolorosa

O azul do meu mar enegrece
A sombra do meu olhar acentua-se
De tristeza parida pelo tumulto do teu mar
Neste entardecer antecipado
A música da alma ecoa adocicando
O olhar marejado e carente de azul
Por lapsos de tempo intemporal
A alma navega sem quimeras
Ao sabor de rotinas pré existenciais

E o tempo não pára nem recua
Avança sempre implacável
Os sentires misturam-se
Numa amalgama dolorosa
De quereres impetuosos
Afagos, lágrimas, silêncios
Sussurros embargados
Pelo longínquo horizonte
Corpos cansados dispersos ameigados
Pela imensurabilidade universal
Persistente, sentida e presente … sempre

Época de reflexão

Da Janela olho
Luzes a brilhar
Em cada casa
Em cada lar
Em cada um
Uma história para contar
De amor, paixão
Desejo e emoção
Tudo começa e acaba
Tudo é ilusão
Mas algo permanece.
A morte, a alma
A perfeição
Nada fica imutável
Tudo nasce
Tudo morre
Tudo se aperfeiçoa
Que segredo é esse?
O que não sabemos?
O que se esconde
Em cada vida?
Em cada um de nós?
Mas isso que interessa?

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O mar no meu olhar


Escuto o sussurrar do mar
Segredando segredos inaudíveis
Como uma carícia humedecida
Afagando o calhau vivo da praia
Num vaivém ternurento de prazer

E eu que faço?

Banho-me nessas ondas espumosas
Onde mergulho sem temor
Consciente da época invernal
Que importa

Em murmúrios flamejantes
Dispo-me das sombras enegrecidas
E visto-me do soalheiro do sol
Brilho ameigada pela quietude
Dessas águas cristalinas
Da ardência do meu sol
Cintilando em céus límpidos
Em melodias sensoriais
Em corpos vestidos de amor
Perco-me na imensidão de sentires
Feliz de ser o que sou
De usufruir das ondas e do sol
Desta minha ilha seduzida
Por ti….. praia idílica

Onde o horizonte longínquo
É a quimera do meu sonho de mulher

sábado, 6 de dezembro de 2008

Imensurabilidade universal


Partilhamos sentimentos, emoções
Amores renascestes e ancestrais
Rasgos de afagos ardentes
Assim … espontaneamente

Tocas-me em desvelos de ternura
Imensurabilidade universal

Buscas o cerne em ti, em mim
Engrandecida pela pulcritude
Intemporalidade efémera de nós
Juntam-se palavras carentes
Obramos a amizade transcendente

Aqueço-me no soalheiro do teu sol
Zarpo no azul desse teu mar
Unto-me de doce maresia
Libertando devaneios de mim, de nós

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Momento sublime na ausência de ti



A noite cobre-me com o seu manto negro
envolve-me nas luzes estrelares
na macieza do luar pardacento
anjos celestiais embalam-me
na ode orquestral da melodia da alma
a realidade transforma-se
nas asas da voz celestial
plano a poeira cósmica
eclodindo no passado longínquo
visualizando-me no futuro
desta vida efémera, sem tempo
só sentires na imensidão do corpo
castrado, dançarino sinuoso
aprisionado das notas orquestrais
liberto na infinitude das partícula ionizadas
sem dono, sem pejo, liberto…..
voando mais e mais
para além de mim, de ti, de nós
no nada e no tudo ancestral
onde as ondas da ternura
estremecem na imensidão de mim
em gotas orvalhadas e liquidificadas.
escorrendo na face expressiva de ti.
Voz angelical.

Corpo vestido de paixão

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Perguntas e mais perguntas
Enredos, sentires, vidas e vidas
Perco-me nesses labirintos longínquos
Dos estados de alma, meus e teus
Brotam em cascatas, versos agridoces
Mesclados de ternura, de doces sensações
Aglutinados em vocábulos sentidos
Em consoantes sofridas e vogais desejadas
Inseridas em poemas de ilusão
Arrefecidas pelo vento das planícies
Madrugais coloridos de nuvens outonais
Em rios turbulentos e límpidos
Que escorem na foz do coração
Exacerbando as batidas lentas da emoção
Neste corpo vestido de paixão.

Trajada de ti



Parto sem olhar para trás
Comigo levo a saudade
O sofrimento, a solidão…
Ausento-me para encontrar-te
Numa outra dimensão
Em novos paralelos de mim
Transvazando a dor
Na terra remexida e húmida
Em jardins esquecidos
De flores murchas e orvalhadas
Em labirintos desconhecidos
Onde habitam os fantasmas de mim
Na noite cerrada e enegrecida
Desta ilha longínqua
Desconhecida de si
Deambulo desnuda
De secretos tesouros
Mas trajada de ti

Aos confins do universo


Deslizo o olhar sequioso
Pelas águas salpicantes
Das vagas silenciosas e irrequietas
Desnudadas pela carícia do sol
Desta ilha enfeitiçada por ti
As escarpadas encostas brilham
Ante os meus olhos marejados
Pelo salgado cristalino do mar
E fustigados pela brisa arisca de mim

Meu corpo sulca as ondas
Guardiãs de vastos segredos
Imobiliza-se, insensível …estático
Abandonado por mim naquele barco
Perco-me em pensamentos delirantes
Translado-me para outra dimensão
De liberta comunhão existencial
Perco-me mais e mais, sem pudor
Nessa voluptuosa viagem
Aos confins do universo
Onde nada é proibido
Nada é recalcado
Tudo emerge na realidade
Da consciência consciente
Dos corpos e das almas.


Saciando a saudade



Quanto tempo tenho, afinal
Para saciar esta saudade
Um minuto, um dia,
A perpetuidade?

Flutuo no labirinto do tempo,
Não sinto a terra macia,
Mas sinto loucamente
O pulsar do coração
Incontrolado,… felino
Como se ansiasse voar
Planar a concavidade da terra
Penetrar na cratera incandescente
Do âmago magmático existencial
Em vivências temporais equidistantes
De existências predestinadas
Em junções consequenciais
De desnudos corpos ébrios

Bebendo a loucura do amor
Vivendo a liberdade do momento
Desfalecendo em pleno sacrilégio.

Sou uma ogiva nuclear


Sou uma ogiva nuclear
Plano os céus em ziguezague
Fogosidade humana
Irreflectida, selvagem
Em vagidos dissimulados
De um âmago pulsatil
No rasto da raiva incontida
No limiar da detonação
Em mil partículas veementes
Mescla de sentires em ebulição
Assombro o sol clandestino
Amedronto as nuvens pardacentas
Estremeço a lua feiticeira
Sem controlo de controlar
O que grita o coração.
Continuo altiva pelos céus
Vislumbro o impetuoso iceberg
Emergente da profundeza do ser
Fixo o alvo e mergulho
Expludo na vastidão universal
Em minúsculas partículas
Matizadas com a grandeza do amor
Envolvidas em sôfregos desejos
Enlaçadas com o perfume da liberdade

E do meu olhar marejado
As lágrimas fluirão


Nos meandros da saudade

O corpo ergue-se da penumbra de si
Imola-se nesse fogo que também é seu
Emerge nas profundezas do oceano
Por um vendaval que irrompeu
Do livro docemente oculto
Pelos meandros da saudade
Inquieta-se, silenciosamente
Por alguém que sobreviveu
Ao naufrágio constelar
De uma vida renascida
Que não sabe porque sofreu

Queda-se quieto na noite
Meigamente permanece
No reflexo do olhar
Um rosto resplandecendo
Na pulcritude do luar
Abrilhantando a noite
De um ser que chora
Em orvalhos cristalinos
Deslizando suavemente
Pelo corpo proscrito
Sequioso de carinho


Silêncio profano


Corpos que se esgueiram na noite
Na escuridão do silêncio profano
Dispersam-se na vastidão constelar
Na quentura sôfrega dos poros
Suados de desejos incontrolados
Brisas desfeitas pelo orvalho audaz
Sombras flamantes e sinuosas
Dos corpos desnudados dançantes
Docemente na frugalidade do tempo
Crentes na indulgência intemporal
Um minuto, um dia, uma eternidade
Saciando a saudade ancestral
De um ser insaciado
À deriva no tempo sem tempo
Diluídos na liberdade bidimensional
De serem tão-somente gente

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Como uma rosa Azul



Queria ser como a rosa azul
Viver meramente um dia
Ser a tua primavera, o teu Verão
O teu Outono, o teu Inverno
Sentir a fragrância da tua pele,
Tuas mãos docemente no meu rosto
Com a macieza das pétalas azuis.
Sentir o prazer de ser especial
Somente um dia, que importa
Como a rosa azul

Afogar a saudade no sabor do teu odor
Saciar o sonho perdido num olhar ardente
Mergulhar na limpidez orvalhada
Que afaga as tuas pétalas imortais
Diluir – me na imensurabilidade de ti
Um dia, uma vida, uma eternidade.
Morrer e renascer como a rosa azul

Doce sensação



Percorro os campos desabrochados
Piso a erva macia do bosque
Penetro nas águas límpidas
Da nascente da vida
Sinto o calor arrefecido pela água
Amaciando o meu corpo despido
O sol aquece a minha pele arrepiada
O corpo flutua na doçura das águas
Em movimentos suavizados pelo desejo
de quem se sente liberto para naufragar
na profundura de ti, doce sensação

Os pássaros esvoaçam na paisagem idílica
Pintada na tela do tempo existencial
De um ser presente neste poema indulgente
Sem passado, sem futuro, só presente
Na pagina deste livro folheado pelo vento
Escrito pelas mãos vibrantes
Crentes em ti…. Sempre

Quero-te renascida… flor imperial

Perco-me no labirinto
desse jardim que é só teu
toco cada flor delicada
Sinto o aroma inebriante
acariciando a minha pele
sedenta de querer sorver…
mergulho nas pétalas orvalhadas
sem medo dessa flor singular
refrescando a alma olvidada
hidratando o âmago do meu viver

Quero-te renascida… flor imperial
ao afago das minhas asas
do meu zumbido sideral
que importa
se é Outono, Primavera ou Verão
se o vento vive em tempestade
ou se adormece em exaustão
que importa os maremotos
os terramotos, a destruição
quero-te vibrante, colorida
nesse jardim universal
nesse solo arado pelo pranto

Rogo aos Deuses do além
chuva incandescente e mágica
inundando os caules arqueados
desse jardim perdido no nada

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Acordo num sonho teu


Adormeço num sonho meu
Expando as minhas asas diáfanas
Aconchego-te num sonho teu
Injecto o doce licor do prazer em ti
Prova-me na existência do que sou

Não temas a sofreguidão da minha luz

Vem….encosta-te a mim
nesta amência que transcende o irreal
liberta-te desse torpor que te sufoca
desliza comigo no cosmos da vida
neste sonho de cascatas incandescentes
de nebulosas por ti renascentes
explodindo na imensidão do universo
do que somos, simples mortais

Não vês a efemeridade da vida?

Saboreia o prazer na amizade de mim
como um afago de gozo celestial
deste anjo que se transmuta por ti
consciente da perpetuidade do nós
no mais límpido querer transcendental

Vem…. Porquê hesitas?
não vês que sou o teu anjo
de que tens medo doce mortal?

Quero-te, veneno de mim


Quero-te sol, lua, terra
quero-te a ti
veneno de mim
lágrimas pérolas dosificadas
que resvalam suavemente
pela face outonal
renascido por ti primavera
só por ti flor do meu jardim
raiva existencial racional de ti
que suaviza em mim
nestes caminhos lamacentos
de uma alma camuflada
sem sul, leste ou oeste
só norte em ti
ternura de mim
incontrolável
de ser assim por ti
sem ouro, sem prata
como um tesouro lançado
ao vento num afago persistente
liberto de mim.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Sou simplesmente vida


O mar magnetiza o meu olhar
agita as mais incontroláveis pulsões
provoca um furor impúdico de sulca-lo
sem corpo, sem barco, sem inibições
somente com a vontade do querer

Plano a plenitude desse mar dócil
vislumbro muito além,
para lá do horizonte anil
onde o tudo e o nada acontece
em paralelos existenciais

Perco-me em ti, em mim…

Já não sou quem sou
sou abelha, saboreando
o néctar desse pólen primaveril
sou águia rompendo o firmamento
mergulhando no vazio do nada
sou brisa que docemente em ti sopro
sou gente que vagueia junto a ti
na orla invisível de mim

Sou simplesmente vida
que ocorreu em ti
neste poema que permanece
somente em mim

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Na simplicidade das coisas




Assim sou eu, assim somos nós poetas….

Na simplicidade e na beleza das coisas,
devia estar a virtude….



Musica de Pedro Abrunhosa
Revisado por Pedro Ramoa

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Espero-te simplesmente


Espero–te simplesmente
No silencio da noite que me aconchega
Nas manhãs frias Outonais
que brotam do verão findo

O tempo passa sem me acolher
o nada acontece
numa monotonia gasta
num poema cinzelado
de palavras amargas de mim

Autonomamente vagueam
pelo papel indolente
sem pejo, sem inibições, atrevidas
conscientes do querer intimo
de gritar livremente
na quietude dos fonemas

Palavras e mais palavras
profetizam-se o destino
estigmatizado por temporais
destruidores de nós
por emoções castradas
por desejos acorrentados
nas profundezas do icebergue gelado
sufocando a sublimidade
do sentimento arquejado

Revolto-me, grito
libertando-me do destino
que não será meu

Elevo-me para lá de mim em ti
amaino os temporais vindouros
afago o tempo ancorado
deixo-me penetrar por ti
cegueira consciente, silenciosa
esquecida de mim

Espero-te simplesmente

domingo, 5 de outubro de 2008

Transcendência de querer


Rasgo os pedaços desse poema
Sorvo o conteúdo clandestino
Nas entrelinhas escritas
Desses versos fragmentados
Em representações doridas
Em pensamentos abstractos
De ideias pré concebidas
De um coração magoado

Voo na cegueira de mim
ao chamamento profano
do silencio da tua voz

Salto no imaginário….

Transmuto-me em partículas
de sentires devassos
em solfejos desenfreados
em melodias descompassadas
de um violino ébrio
do teu proscrito sorriso
arraigado em mim.

Perco-me nesse som que não é meu
nessa transcendência de querer
o que, no tempo se perdeu

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Desejo mórbido de matar-te


Hoje, acordei furibunda
E antes de sentir o calor do sol
Romper pela janela entreaberta
Senti um desejo mórbido de matar-te
Não com balas, nem com facas
Mas com pétalas de rosas vermelhas
Imersas em pedaços da minha alma dolente
Matar-te com águas perfumadas
Oriundas de nascentes cristalinas
Das montanhas húmidas de saudade
Matar-te raivosamente
Com o afago das minhas mãos
Trémulas de desejo
Por tanto querer acariciar-te
Matar-te com o soluço da minha voz
Sedenta da tua

Sabes… é isso o que me apetece fazer
Todos os dias quando acordo
E a tua lembrança rasga a minha mente
Como um vendaval de ar fresco
Perfumado com a fragrância do teu sorriso.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Sento-me ao lado do tempo


Sento-me ao lado do tempo
do tempo que o tempo me dá
falo-lhe sofregamente
do tempo que já não está
ouço-o sorrir
em gargalhadas de luar
estremecendo-me docemente
como se me quisesse afagar
sinto-me seduzida
pelo tempo que o tempo me dá
pergunto-lhe porquê
se o tempo passado será.

E no silêncio do tempo
vislumbro a resposta
que meigamente o tempo me dá

domingo, 17 de agosto de 2008

Desespero existencial


Hoje, sento-me à beira do abismo
Olho a rocha escarpada
Perpendicular ao mar
Esse mar revolto que me atrai
Hipnotizada sinto o anjo negro
Num abraço de morte
O negrume penetra minhas entranhas
Meus olhos raiados de breu não te vêem
Raízes seculares sugam a água da encosta
Meus pés desnudos estáticos
Pisam os espinhos das rosas mortas
No céu as nuvens pardacentas
Cobrem-me de saudade
Na minha mente imagens pintadas de sonhos
Rasgam-me a alma como garras felinas
O meu corpo alado ergue-se
Pronto a arrojar-se
No escarpado negro da morte
Minha mente hesita
Meu corpo estremece de desejo
É tão fácil voar até ao mar
Permanecer voando no infinito
Não sofrer, não pensar
Apenas voar, sem passado
Sem presente, sem futuro
Sentindo a alma navegar
Ao sabor da brisa divina
Ah! como é tão fácil
Morrer e não pensar.
Atiro-me feliz
Nos braços negros do vácuo
Sucumbo mais e mais
Sem gritos, sem dor
Seduzida pela pulcritude do limbo

No limite do teu desespero existencial, é isso que sentes, tu que queres morrer? Interrogo-me perplexa, sem respostas e tu amigo que lês este poema sabes responder?
Porque desiste de viver aqueles que se suicidem?
Que desespero tão profundo os levam a querer morrer, será mais fácil desistir ou lutar pela vida? Reflecte, analisa e conclui ….


Chama bravia


No meu peito arde a chama da ilusão
que percorre o meu corpo
em autentica combustão

Meu corpo desnudo
deixa-se envolver pelo fogo impetuoso
que brota do lampejo do passado

Mergulho nas cinzas
dispersas pela terra calcinada

Gritos silenciosos emergem
da garganta esfacelada
de tanto bradar

Bebo o passado límpido
como um doce veneno que me embriaga
e provoca-me espasmos de prazer fugaz

A mente lapida
como a lâmina de uma navalha
o esquecimento

Mas teimosamente a chama bravia
arde majestosa revoltando-me….
afagando-me… e nada fica igual.



terça-feira, 5 de agosto de 2008

Quantas vezes


Quantas vezes, contemplei o mar
perdendo-me no anil do horizonte

Quantas vezes, aguardei
que viesses amainar
a minha saudade perene

Quantas vezes, almejei ser alga
sentir a carícia das ondas
e mergulhar no afago do teu corpo

Quantas vezes… permaneci
sentada na margem da vida
não sentindo o tempo passar
mas sentindo o pranto resvalar
beijando docemente o calhau

Quantas vezes, ansiei o teu sorriso
afagando a minha face dorida

Quantas vezes, o meu coração parou
fatigado, atordoado, perdido…
palpitando somente
com o murro da esperança


Quantas vezes, desejei loucamente
procurar-te por ai…

Quantas vezes, ambicionei ser anjo
apertar-te no calor do meu corpo
e transformar os teus pesadelos
em sonhos perfumados de jasmins

Quantas vezes desejei-te
e acreditei
que o destino te trouxesse
por fim


segunda-feira, 14 de julho de 2008

Insanidade

Perco-me
nos caminhos impetuosos
do teu corpo febril

Analiso cada palpitar
desse teu louco coração
Elaboro tecnicamente
um diagnóstico concludente

Insanidade

que deprava deliberadamente
o meu corpo imprudente

(Tu doce veneno, chamado paixão)

Odores penetrantes flutuam no ar
Mãos vibrantes movem-se suavemente
Olhos ávidos penetram-se
Bocas sequiosas murmuram-se
Rostos inflamados incendeiam-se
A proximidade é embriagante
Trôpegos os corpos agregam-se

A noite delonga-se
adiando o amanhecer
Os cumes das árvores
embaladas pela brisa nocturna
Docemente entoam cânticos

E os corpos permanecem
alheados…. insanos

terça-feira, 8 de julho de 2008

Sou peça de um jogo de xadrez
Jogada pela mão versada da vida
Movimenta-me nas quadrículas negras
Ao sabor do seu desvario
Coloca-me estrategicamente
Em consonância
Com a jogada astuciosa do destino
Posicionado do outro lado do tabuleiro

Destino e vida disputam-se
na ganância de vencer

as peças movem-se sem vontade própria
rei, dama, bispo, torre, cavalo
eu sou o peão, a alma deste jogo
que a vida e o destino se apressam em jogar

Infinitamente…

sábado, 5 de julho de 2008

Não consigo deixar de poetar

As nuvens deslizam suavemente
Pelas encostas escarpadas
Nebulizando o verdejante
Do arvoredo primaveril
O azul do céu espreita timidamente
A serenidade é exímia
A plenitude invade-me
Não consigo deixar de poetar
A paz fugaz é sedutora
Meus olhos secam do mareje ocular
A brisa fresca arrepia-me a pele
As árvores agitam-se
dançando ao sabor do vento
Como se me quisessem encantar

(murmurando docemente)

visualiza a nossa beleza
Sente dentro de ti a nossa força
Liberta-te e saboreia a vida
que ainda tens para viver
transmuta para o papel sequioso
o que a alma sente
e a razão já não quer rejeitar

Um poema infantil ou de amor?

A porta sombria, permanece fechada
Eu não consigo lá penetrar
Bato docemente na madeira
Mas tu não me consegues visualizar
Sei que ouves, sim
O arquejar do meu coração
Por isso mesmo não a abres
Com medo da aproximação
Mas tu sabes muito bem
Que eu entendo a tua posição
Só que é doloroso demais
Não conseguir uma migalha
Da tua atenção

Por isso um dia… cansada
Numa joaninha transformar-me-ei
E sofregamente penetrarei
Na frecha da porta sombria
Percorrerei ansiosamente
Esvoaçando
A distância que separa-me de ti
Poisarei no teu cabelo
Num afago sem fim
E as tuas mãos tremulas
Por momentos, em mim pegarão
Acarinhar-me-ás sem sufocação
E eu pobre joaninha, feliz voarei
Porque consegui por fim
Um pouco da tua atenção.

Sabe bem



Sabe bem
voltar a sentir-te
Com a mente liberta de cafeína e opiáceos

Sabe bem
relembrar o tango dançado
Sem preconceitos, tentadoramente
Um minuto, transformado
Em momentos de intensa paixão.
Vividos no plano dos sentidos.
Arreigados em seres vibrantes
em alerta sentimental.

Um tango dançado no bordo linear
Do desejo incontido
Em dois corpos desconhecidos
inventando-se nesse momento único
no universo da sedução

Sabe bem voltar a senti-te
sem drogas a atrofiar a mente
Hum… sabe tão bem

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Quero olhar-te, ver-te e sentir-te

Eu mortal na minha imortalidade
não quero ser imortal na minha intangibilidade
Quero olhar-te, ver-te e sentir-te bem fundo
Olhar os teus olhos de mel
Ver de perto as rugazinhas,
quando tu docemente sorris.
Ver o brilho de felicidade neles retidos
Ver a beleza contida nesse olhar marejado
Ver a construção de um poema teu
Ver o que vês na poesia que eu esculpo
Quero olhar-te e ver-te nem que seja numa foto,
numa aguarela imaginada por mim

(na intangibilidade não quero ficar)

Quero sim sentir, olhar e simplesmente estimar.
até ao dia que te vou abraçar
sentir o teu corpo pleno, no meu
deixar tagarelar o meu coração
acariciar os teus cabelos sedosos
murmurar-te ao ouvido
por favor, sente-me
e leva-me contigo
mesmo que não me queiras ver


Escrito a 23/06/08

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Não me peças...


Não me peças que te dê o nada
Se o nada não te quero dar
Não me peças que te assassine
Se tenho só a arma do lutar
Não me peças que me amordace
Se é meu coração que está açaimado
Não me peças nada de nada
Porque eu nada te posso dar
Pede-me distância
Distância dar-te-ei.
Pede-me silêncio
Calada chorarei.
Pede-me poesia
Poesia dar-te-ei
Pede-me o coração
Porque ele eu já te dei

Mas lembra-te, por favor
Que nem tudo devemos pedir
em nome do amor.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Momento circunscrito


Deitada numa cama do hospital
Penso…nem eu sei em quê
Na minha mente,
imagens surgem do passado, do presente
como um comboio expresso, veloz
sem se deter em nenhum apeadeiro
Mescla de sentimentos emergem
de um vulcão, ainda em ebulição
Lava incandescente invade
a montanha do meu sentir
formando rios de lama
que se extinguem
ao contacto do iceberg da razão
O expresso continua a deslizar
rapidamente
A minha mente
eterizar-se do passado, do presente
O tempo pára ao tic-tac do relógio
O meu ser ausenta-se
suspenso do comboio expresso
que continua em andamento

A porta da alma escancara-se
de repente
O sonho penetra sofregamente
Na mente atordoada
O futuro… imagina-se
O comboio expresso imobiliza-se
O sol renasce brilhante
Numa primavera apetecível
Gotas de orvalho penetra
a lava vulcânica
arando o solo
a semente é lançada
flores campestres perfumam
a montanha do sentir.
O presente é passado
O amanhã é esquecido
O sonho é intensamente vivido.

Escrito a 12/07/08

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Luar sedutor


Acordada no silencio da noite
Suspensa pelos filamentos
prateados das estrelas
Amparada pela sua manta sideral
Pairo na aragem do tempo
tal fantasma à procura
da casualidade existencial
das interacções cósmicas

Os meus olhos contemplam-te

Peço-te perdão, lua cintilante
Por ter provocado
O relampejar dos Deuses
Ao enfeitiçar-me do teu luar sedutor
Que me trajou de ternura
Alumiando minha existência

Não escutei a voz da razão
Que sussurrava baixinho
Pára, amordaça o teu coração
não o deixes sentir
Pára, curariza-o, paralisa-o
não o deixes pulsar
Pára, não o deixes voar.

Vagueio pelo espaço penitenciando-me
Sentindo o espinho da saudade
As pétalas da ternura
A chama do desejo
A vontade de voltar a sentir
A quentura do teu luar

Estendo a minha mão trémula
Quero afagar-te…
Mas como? Interrogo-me
Como posso ansiar tocar-te
Eu insignificante mortal?

Gotículas orvalhadas deslizam lentamente
Molhando meu corpo volatilizado

Tu olhas-me, sorris tristemente
Permanecendo em constante rotação.
E eu continuo a pairar
Na aragem do tempo
Em absoluta meditação

sábado, 7 de junho de 2008

Sonho de maresia

Estendo - me no calhau da praia
Sobre as macias algas marinhas
Envolvo-me de suave maresia
Aqueço-me com a manta solar

Meu corpo vestido de melancolia
Divaga….penetra
Na profundeza do oceano
Acaricia a estrela-do-mar
Delicia-se com as doces melopeias
Que ecoam dos acordes da harpa celestial
Tocando lúbricamente o tango

Os meus olhos fascinam-se
Com as medusas reluzindo
Das cores da paixão
Rodopiando sensualmente
Mais e mais, tornando-se unas

As conchas cantadeiras
Soltam cadenciadamente
Pérolas de amor
Inundando a vastidão marinha
De essências da vida

Eu continuo a contemplar
As medusas libertas
Entrelaçadas a dançar
O tango sedutor da vida

Permaneço imóvel, fascinada
E sinto o salgado dos meus olhos
Diluir-se nas torrentes oceânicas.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Um dia...


Um dia
O passado ficará inerte
Nas ruínas do tempo
Num ponto fantasma qualquer

Um dia
Eu serei ave, foca, leoa…
Voarei na vastidão do firmamento
Mergulharei na profundura do mar
Vaguearei pela densa floresta

Serei poeira cósmica
Diluída no universo astral
E quando eu já não existir
Tu procurar-me-ás
No recanto das tuas memórias
Recordar-me-ás, sorrindo
Sonhando com o passado
Abrigado num cantinho
Do teu fatigado coração.

Um dia
Eu serei apenas uma recordação
Suave como o vento
Leve como uma pena
Mas meigamente arreigada
No teu doce coração

Um dia
Enganarei a vida
E no livro grosso do tempo
Escreverei o meu próprio fado
Desenharei as cores do meu caminho
Pintarei o cinzento do meu destino
No verde cintilante da esperança

Serei o espelho da tua alma
Onde verás toda a pujança do meu querer.

Um dia
Eu serei aquilo que anseio ser.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Marasmo poético


Foge-me a inspiração
Atordoam-se as palavras
Emudece-me o coração
Esvazia-se a mente
As mãos… ah! As mãos
Aniquilam-se desalentadas
Mudo permanece o papel
Não consigo poetar
Escrever o que me faz desejar
Já nada me inspira
Nem esta dor que permanece
Nem as lágrimas dos meus olhos
Que não estancam
Nem o murmúrio do mar
Segredando-me baixinho
Nem a paisagem inebriante da vida

Nada, mas nada me faz inspirar…

Porque me abandonaste inspiração?
Embala-me novamente na tua poesia.
E faz falar meu coração.

domingo, 25 de maio de 2008

Eu vi essa ave

Eu vi essa ave
Voando em liberdade
Planando o meu mar
Tumultuoso e orvalhado

Eu vi essa ave, sim
Faminta e exausta
No meu ombro descansou
Chilreando baixinho
Palavras doces de carinho

Trazendo novidades
Do outro lado do mar
Mitigando a saudade
Que teima em ficar

Meu coração rejubilou
Com tão linda melodia
É a melodia da ternura
Enviada com sabedoria.

O mar amainou
O meu olhar brilhou
O sol enxugou
As penas molhadas da ave
que voou em liberdade

Recuperou alento
Chilrou a mensagem
E Voltou a voar
Até perder de vista

Levando nas patas
Uma flor perfumada
Com a fragrância
Da minha terna lealdade

Sabe o que fazer dela
E concluir a missão
Entregá-la docemente
Á “musa” da minha inspiração
.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Presa na calada da noite


Presa na calada da noite
Percorro a alameda da escuridão
Sinto as raízes da árvore secular
Enrodilhar-se no meu corpo desnudo
As folhas roçam-me incessantemente
Na cadencia do sopro gélido da penumbra
As gotículas orvalhadas de cinza
Penetram na minha epiderme descolorida
Não sinto o bater do coração
Gelado pelo iceberg da alma enegrecida
Meus olhos trespassam a escuridade
Tentando ouvir-te na claridade do dia
Mas impossível
A barreira da 5ª dimensão
Ergue-se sombria
Possuidora
Da linha dimensional do tempo
E tu cada vez mais distante
Continuas em outra dimensão
Minha boca quer gritar, mas…
Nenhum som torna-se audível

Eu permaneço presa na noite
Sem nada poder fazer
Deambulando na escuridão
Á espera de transpor esta dimensão.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Amiga linda


Um dia encontrei-te, graciosa
Na berma da minha vida
Segurei-te nas minhas mãos trémulas
Com delicadeza e ternura
Receosa, que pudesses definhar
Plantei-te … bem profundo
No jardim da minha existência
Onde mais pulsava a emoção
Reguei-te todos os dias
Com o néctar da minha dedicação
Não murchaste, cresceste majestosa
Enaltecendo todo o meu viver

Hoje, relembro o passado
Contemplo o meu jardim
E vejo-te viva, radiosa, jovial
Ondulando ao sabor da brisa
Que me afaga o coração

És a flor mais perfumada
Das fragrâncias do meu jardim

Não és ouro, nem prata…
És muito mais do que isso
És a flor mais rara que existe
A mais meigamente amada
Enraizada dentro de mim.

Será que consegues sentir
A quão preciosa és para mim?

sábado, 17 de maio de 2008

Delirare

Acaricio com os meus dedos trémulos
Os contornos aprazíveis do teu rosto
Beijo docemente um a um
Os teus olhos radiantes
Reflexo do teu pulcro ser

Olho-te apaixonadamente
Delicio-me com a tua volúpia
Sinto-te estremecer

Beijo os teus lábios
Pecados da minha insânia

Mendigo ao tempo que pare

Sussurro, palavras doces de carinho
Prolongando o teu ser
No desvario do meu desatino

Deliro, não perguntes porquê
Não tenho explicação
Deliro meramente…
Sem qualquer contestação

Entregando o meu coração
No concavo da tua mão

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Sou o fantasma da dor



Sou o fantasma da dor
Preso no tempo infinito
Soluço, mas ninguém me ouve
E tu, porque não me ouves?
Um dia ouviste-me…

Vagueio na imensidade da vida
Perdida, sem direcção
Na noite pardacenta da soidade
Deste amor que me afaga o coração
Ouves-me? Não… eu sei
Como podes ouvir um fantasma
Disperso, na 5ª dimensão?
Sou o fantasma da dor
Preso no tempo
Em completa meditação
À espera de concluir o seu ciclo
Transmutar-se novamente
Na esfera da humanização
E voltar a viver
Em plena libertação

Talvez assim me oiças
Quando eu te murmurar baixinho
Não me abandones, fica
Aquece a minha alma
Com o teu sorriso e o teu carinho.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Contemplei perplexa
Os pedaços do meu coração
Dispersos na calçada da vida
Caídos, desamparados
Sem rumo, sem união
Gemendo baixinho
Na mais completa solidão

Juntei-os cuidadosamente
Colei-os com lágrimas ardentes

Um a um voltaram a vibrar
Unidos, palpitaram num só
No meu remendado coração

Audaz, saltou do peito
Alcançou outra dimensão
Vagueou pelo universo
Saboreando o néctar da vida
Acreditou novamente em si
Na capacidade de sonhar
Acarinhando este meu corpo
Na insânia de amar

Segredando-me docemente
A razão de tanto querer lutar.

domingo, 11 de maio de 2008

A ti enfermeiro, gente que cuida de gente

A ti enfermeiro
Gente que cuida de gente
Amado, criticado
Desejado, tolerado
Esquecido no tempo da bonança
Querido no tempo de sofrimento

A ti enfermeiro
Que suportas a dor
No olhar de um doente
Que ris, quando queres chorar
Que amansas o teu coração
Quando te apetece gritar.
Que abafas a mágoa de seres gente

A ti enfermeiro que vagueias
Velando na calada da noite
Aqueles que confiam em ti
Em noite infindas, sofridas
Lutando contra a morte e o tempo.

A ti enfermeiro que mitigas
A alma e o corpo de quem geme
As dores de ser simples mortal

A ti enfermeiro que enalteces
O sentido da vida
A dignidade humana
Esquecendo que também és gente.

A ti, a minha homenagem
12 de Maio dia internacional do enfermeiro

sábado, 3 de maio de 2008

Sou mulher, mãe… predestinação


Sinto-te no meu útero
Ameigo-te
Floresces em amor
Consomes os nutrientes da vida
Ávida de querer viver
O tempo é efémero

Sinto a tua alacridade
Agitas-te no líquido amniótico
Tentando transmitir o teu deleite

Sinto-te crescer, pronta para nascer
Meu corpo transformado
Estremece de ternura e comoção
A dádiva da vida, acontece

Escuto o teu choro e choro contigo
Contemplo-te fascinada
Tremula de emoção
Acarinho-te nos meus braços
Olhas-me… céus
Os teus olhos são dois lagos
De águas cristalinas
Que detêm-se no tempo intemporal

Sou a força motriz da tua evolução
Musa de poetas, compositores
Pintores, escultores, artesãos…
Escultura em constante modelação

Sou mulher, mãe… predestinação

sexta-feira, 2 de maio de 2008

A tela da minha imaginação

Pinto-te numa tela
Mesmo sem saber pintar
Delineio as cores do teu rosto
Acentuo o traço do teu sorriso
Os contornos do teu corpo
Pinto-te numa aguarela
Com as cores da ilusão

Olho-te, admiro-te
Magistralmente esculpido
Na tela da minha imaginação

Ganhas vida, falas-me, sorris…
Um sorriso enigmático e sensual
Que me provoca miscelânea de sensações
Irrefreáveis…alvoroçando o meu coração

Encerro suavemente as pálpebras
Consinto que me invadas sofregamente
E lá, no amâgo do meu ser
Deixo-te feliz, permanecer.

Mas a minha dor não desaparece
Silenciosamente permanece
Abafada pela força da razão

Contemplo-te uma vez mais
Olhas-me e do teu rosto
Que eu delineei.
Sulcam lágrimas

Manchando a tela da minha imaginação.

domingo, 27 de abril de 2008

Sinto-te


Sinto-te num poema inacabado
Nas palavras que não escrevo
No bater do meu coração
No gemer das cordas de um violino

Sinto-te na imensidão do mar
Nas gaivotas planando
Nos pássaros entoando
Nas noites frias de luar
No sono não dormido
No amanhecer matizado
No salpicar das ondas

Sinto-te no olhar cansado de um doente
No riso de uma criança
Na carícia das minhas mãos
No meu olhar enaltecido

Sinto-te neste meu fado vivido.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Parar é morrer


Inalo profundamente
O ar doce da tua lembrança
Sinto-te vagar o meu corpo
De meiguice e sedução

Nesta noite infindável
Escuto o meu pensamento
Gritando silenciosamente
Bate coração
Cadencia a ternura
Transforma nos lábios
Em aprazível sorriso, a tua emoção
Não pares, bate
Galopa em direcção ao arco íris
Mesclado com as cores da vida
Galopa até ao infinito
Onde o sonho é eterno
Bate não desistas
Alimenta minha alma
De deleite e de encanto
Galopa, ultrapassa o físico
Entranha-te nesse corpo enfadado
Dá-lhe claridade e sapiência
Fá-lo enxergar a tua agonia
Galopa não pares
Porque parar é morrer

(Vive coração e ama sem sofrer)

Olhar marejado

Encaro-me, frente a frente
Vislumbro um olhar marejado
Que deixa deslizar suavemente
Um veio de águas límpidas e puras
Brotando impetuosamente
Do interior da natureza selvagem
Sulcando meu rosto perfumado
Pela fragrância de flores campestres
Ininterruptamente escorrem
Amansadas por força superior
De uma alma magoada
Pelas voluptuosidades da vida
Lágrimas que nunca chorei
Desabrocham docemente, silenciosas
Carregadas de saudade, ternura e destino
Meu rosto sereno deixa-se trespassar
Meus lábios sorvem o agridoce da ternura
Minha alma absorve o destino cinzelado
Meus olhos marejados reflectem
O sentir e o querer da alma
Engrandecida pelo fogo da chama
Que aquece meu corpo fatigado
Pelo Outono da vida…

segunda-feira, 14 de abril de 2008

És a minha brisa

És a minha brisa
Que sopra de mansinho
Doces palavras de carinho
Mitigando a minha vida
Este meu efémero destino

És a minha brisa,
Que na noite de Inverno
Aquece o frio da saudade
Que subsiste na minha alma.
Ávida de total liberdade

És a minha brisa
Que reacende a chama
E exalta a minha alma
Nutrindo o meu ser sonhador

És a minha brisa que refresca
O calor ardente do meu sentir
Mas também o meu próprio querer
E nesta ambivalência de sensações
Vive em desassossego o meu ser

Eu sinto-te de mansinho
Eu anseio-te incessantemente
Neste meu corpo falto de carinho

sábado, 12 de abril de 2008

A vida sem amor...


Fica, alegra este corpo afadigado
Invadiste-o sofregamente
Então…não desistas
Pinta-o da cor da esperança
Orquestra-o nos prazeres da vida
Esquece a dor, a mágoa…
Não fiques ferido nem abandonado
Ergue-te e procura
A tímida chama que arde
Não abandones este corpo cansado de lutar
Fica doce amor
Fortalece-te e voa
Sente a torrente do mar
O brilho do sol nos dias de verão
O semblante protector da lua, nas noites escuras
O perfume das flores orvalhadas
Sente o pulsar do coração
Transforma-te em puro barro
Moldado por estas mãos ávidas de esculpir
Liberta-te e transmuda-te
Na mais pura energia emocional
Sobrevive, aconchega meu coração.
Porque a vida sem amor
É como fogo sem paixão

quarta-feira, 9 de abril de 2008

O amor não tem limites



Por favor, vejam até ao fim
A dádiva do amor não tem limites...

Assim é a poesia

Soltam-se as palavras
Enjauladas
Num circo qualquer da vida
Soltem-nas
Deixem-nas falar
Cavalgar no papel
Pincelado com a tinta
Que a alma escreve
Deixem-nas juntarem-se
E livremente transmitirem
Sensações de liberdade

Não mais sufocadas
Não mais aprisionadas

Deixem-nas penetrar
Na descoberta da poesia
Saborear o mundo
Ensandecer-se com as cores
Vivas da fantasia
E pardacentas da saudade

Deixem-nas escolher
Vogais, consoantes, pontuações…
Formando sons dissilábicos
Ao sabor da melodia
Dos seus libertadores

Libertem-nas, cinzelando-as
Nas mais puras emoções do sentir
Deixem as palavras falar
O que os lábios calam
Mas a alma sente

domingo, 6 de abril de 2008

Avidez


Pouso em ti, docemente
Delicadamente, linda flor
Bebo sofregamente o teu néctar
Mesclado de mel
Sacio-me no teu suculento pólen

Febril, danço nas tuas folhas
Nesse etéreo jardim proibido
Livremente esvoaço
Brilhando ao sol
Intenso de ti
Meu corpo vibra ao roçar
Na macieza das tuas pétalas

Sedutoramente percorro
O teu gracioso corpo
Uma e outra vez
Ao compasso da suave brisa
Que te estremece de avidez

Fica, olha-me…queima-me…


Brilha nos olhos o código do silêncio
Calam-se as palavras que a alma sente
O coração aperta, pulsátil, louco
Impele nas artérias o sangue impetuoso
Nutrindo as entranhas viscerais do querer
Docemente a ternura penetra fundo
Na carne ressequida da saudade
A nudez do corpo, veste as roupas da nostalgia.
O pensamento grita na noite escura e fria.
Silencio, ninguém ouve
Só o vento geme baixinho, solidário.
O coração continua a compasso
Da lembrança possante do sentir.
Do desejo ardente do teu ser
E tu, presente mas…. distante.
Ignoras a força do meu querer.

Fica, olha-me mesmo que não me toques
Sente, inflama, não tenhas medo de te calcinar
Transforma-te em fogo ardente
Aquece meu coração
Queima o meu corpo sedento do teu
Fica, olha-me…queima-me….

O toque


Tu que me sorris, que me falas
Porque não me tocas?
Com o calor da tua mão. Com o aperto do teu abraço
Porquê? O que te impede?
A sociedade cheia de tabus, a vergonha ….
Não sabes que o toque é vital para nós pobres mortais
Desde que nascemos que necessitamos das carícias de umas mãos, do aconchego de um abraço
O que te impede? Será porque também não te tocam, nem te abraçam o suficiente?

Sabias que:
O tocar e ser tocado é uma necessidade atávica,
A sua carência lava-nos ao stress e à depressão crónica.
Porque confundimos necessidade de contacto físico,
Com necessidade de sexo?
Fomos educados e crescemos a julgar
Que o toque é privilégio dos apaixonados

Deixa-te de preconceitos e contribui para a evolução sadia da sociedade, retirando-lhe os tabus, as ideias pré concebidas. E lembra-te; o contacto físico com ternura e carinho não é necessariamente um sinal de atracção física, é muito mais do que isso, é um sinal de amor nem hetero, nem homossexual, mas de um ser humano para outro.

Queres melhorar o universo?
Então toca, acaricia, abraça, sorri para alguém e iniciarás a força necessária para modificar este nosso mundo

terça-feira, 1 de abril de 2008

Teces a teia que me envolve


A maresia traz-me o teu perfume
Molha meu corpo de alvoroço
Odorizando-o de incontrolável ardor
--Sinto-te
Teces a teia que me envolve
Encantas -me de doce sedução

Amansas a minha loucura
Meigamente enfeitiças meu olhar
Orvalho molhado do meu querer
Roubas sofregamente o meu alento

Mesclas minha pele de aromas
Infindos…de desmedido prazer
O tempo perpetua no meu querer

Sabe bem ter -te tão perto
Envenenar -me de mortífero veneno
Na mais melíflua sublimação
Ter-te nos meus trémulos braços
Em completa liberdade e alienação
_
Miscelâneas de voluptuosas sensações
Eternizadas no tempo da minha imaginação

segunda-feira, 31 de março de 2008

Na escuridão da noite



Invado a escuridão da noite
Sequiosa de sangue
Percorro becos e ruelas
Salto nos galhos sinuosos das árvores
Á espreita…
Olhos negros luzindo de volúpia
Corpo ávido e tenso
Desejo estampado
No rosto pálido e afunilado
Espero uma presa
O suor gotifica em meu corpo
Antevendo tamanho banquete
O coração negro de ferrugem
Acelera vorazmente
Aguardando o seu ressuscitar
Com sangue fresco e adrenalisado
Espero quieta, mas impaciente…
As horas passam silenciosas
A lua cheia ri-se de mim
As nuvens negras dançam
Ao sabor do meu desespero
Os raios solares vislumbram-se no horizonte
Meus olhos lacrimejam com a pálida luz
Recuo ao meu túmulo vazio
Sinto-me desfalecer
Ainda não é hoje
Que satisfaço o desejo do meu ser
Sedento de prazer

sexta-feira, 28 de março de 2008

Esquizofrenia

As vozes assolam a minha mente
Penetram mais e mais, murmurando ordens insanas
Já não distingo a realidade
Quero controla-las, mas não consigo
Ecoam no meu cérebro aterradoras
Em delírio erróneo, o meu corpo alucinado se retrai
Serão seres sobrenaturais, fantasmas, o demo…?
Em delírio constante sou Deus, Jesus, Virgem Maria…
Desarticulo-me no pensamento expressivo
Misturam-se as palavras, sem coerência
Transformando-se em pensamentos perturbadores
Perturbando meu funcionamento intelectual
Sinto na alma a deterioração prematura do meu cérebro
Sinto-me perdida, percepciono tudo e nada percepciono
Rio-me estupidamente, reagindo
À minha própria interpretação idiossincrásica da situação.
E tu choras, olhas para mim e não entendes
Eu continuo na minha insanidade mental
Amarrada ao delírio, às alucinações e à inanição cognitiva
Sofro, desesperadamente, perco o contacto com a realidade
O todo é irreal, ilusório e penetra no meu cérebro
Deixando-me louca, amarfanhada e perdida
Já nem sei quem sou, ajuda-me… compreende-me.

Dedico a todas as pessoas com esquizofrenia, que lutam tenazmente para se inserirem numa sociedade marginalista, atrofiada… e muitas já aprenderam a controlar os seus distúrbios, funcionando eficazmente

Não os marginalizem amigos

quinta-feira, 27 de março de 2008

Dança comigo este tango


Anda
Dança comigo este tango

Cola o teu corpo juntinho ao meu
Num contacto intenso de posse mutua
Faz-me rodopiar incessantemente
Ao som melódico do ritmo apaixonante
Dos instrumentos orquestrais
Coloca a tua mão trémula
No meu desnudo dorso, a compasso
Num bailado pleno de fascinação
Rodopiamos mais e mais
Numa embriaguez insana

Já não sentimos o chão
Deslizamos….
Suspensos dos acordes nostálgicos

Teu rosto aproxima-se do meu
Ensandeces-me com o olhar
Nossos corpos continuam
Rodopiando em rituais de sedução
Alienados do que os rodeia
Unidos na mais forte tentação…

Anda
Dança comigo este tango

Alma poética


Palavras esculpidas
Em papel inerte
Pedaços da alma poética
De quem padece no corpo
A dor transcendente dos mortais
Absurdos, bárbaros e insanos
Alguém em que
As palavras são
Desabafos impetuosos
Que brotam do inconsciente
Calcinado pelas emoções da vida
De um alma engrandecida
Dos sentires consciente do seu ser
Que não cala a revolta,
A injustiça, a displicência
Dos seres ditos racionais
Pedaços de alma
Prensados em palavras
Transmitindo
Gritos silenciosos
Da grandeza de uma alma poética
Penetrando na profundidade
Da imundice humana


http://amanhecer-palavrasousadas.blogspot.com/

terça-feira, 25 de março de 2008

Que mudou em mim



Não consigo escrever
Sinto-me vazia
Serão saudades?
Dessas tuas lindas mãos
Desse teu rosto
Do teu sorriso
Que me enlouqueceu
E enlouquece-me
Como um vampiro quando vê sangue
Uma alma quando encontra um corpo
Vazia continuarei
À espera de te voltar a ver
E aí sim
Voltarei a escrever

Escrito pela minha filha Laura Maciel - 13 anos